PARK CITY, Utah - Na cerimônia de premiação na noite de sábado para o Festival de Filmes Sundance deste ano, John Waters, direitor-roteirista e especialista em mau gosto, resumiu a diversidade da programação. Waters observou que o tema dos filmes incluía pessoas excepcionais e farejadores de gasolina.
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Beto Brant, diretor de "Invasores", recebe o prêmio de melhor filme latino-americano
"Eu nem sabia que vocês poderiam fazer isso", disse ele, com uma pista de alguma coisa em sua voz que pegou muitos desprevenidos: a surpresa.
Waters, diretor de "Pink Flamingos" e "Female Trouble", concluiu que era bom que os cineastas sob discussão tivessem uma dedução criativa, de outra maneira, "este não seria um festival de filmes, seria uma audiência de uma comissão de liberdade condicional".
Os filmes detalhando as vidas de pessoas com problemas não passaram despercebidos pelos jurados. Gordy Hoffman recebeu o Prêmio de Melhor Roteiro Waldo Salt por "Love, Liza", o filme sobre um farejador de gasolina. O filme, que segue um viúvo deprimido cuja esposa cometeu suicídio, tem o irmão mais novo de Hoffman, Philip Seymour Hoffman.
"Secretary", uma adaptação de uma história Mary Gaitskill sobre uma jovem e confusa secretária (Maggie Gyllenhaal) que corta sua pele compulsivamente - e que ganha uma dose de confiança que altera sua vida quando seu chefe (James Spader) começa a dar palmadas em seu traseiro - recebeu um prêmio especial do júri pela originalidade.
E "Real Women Have Curves", ganhou um prêmio especial do júri pela atuação, dividida por dois de seus astros, America Ferrera, que teve a chance de dizer olá para sua escola, e Lupe Ontiveros, que foi mostrado em vários filmes bizarros como "Chuck and Buck" e "Histórias Proibidas". O Prêmio de Audiência Dramática também foi para "Real Women Have Curves", uma comédia dirigida por Patrícia Cardoso, sobre uma adolescente latina brilhante e cheia de esperança (Ferrera) em um cruzamento, cuja mãe diva (Ontiveros) constantemente perturba sua filha em relação ao seu peso. A mão firme de Cardoso - na cerimônia, ela observou que demorou 10 anos para terminar o filme - não força as risadas ou as mensagens no material.
"Manito", a história íntima e bem feita de uma família latina despedaçada pela ambição pelo futuro, e pelos laços com o crime em seu passado recente, recebeu um prêmio especial do júri pelo elenco. E "O Invasor", um drama brasileiro de Beto Brant, ganhou o prêmio do júri por Melhor Filme Latino-Americano.
Apesar do material não-ortodoxo encontrado nos filmes dramáticos, houve outra surpresa estranha e feliz durante a noite. O fluxo de agradecimentos dos cineastas à HBO se tornou vertiginoso, dado que esta era uma noite dedicada à premiação de filmes independentes. A exaltação também pode ter vindo da alta temperatura no Park City Racket Club; estava tão quente lá dentro que o evento ameaçou se tornar a primeira cerimônia de premiação realizada por causa de uma exaustão do aquecimento.
A HBO, que produziu "Real Women Have Curves", mereceu a atenção acumulada sobre ele, apesar de a gratidão ter parecido incompatível. Ela tinha vários filmes concorrendo como documentários e dramáticos.
O maravilhoso documentário sobre a música de protesto sul-africana, "Amandla! A Revolution in Four Part Harmony", que ganhou o Prêmio de Audiência de Documentário e o Prêmio de Liberdade de Expressão, foi apresentado pela HBO. Tanto "Real Women Have Curves" quanto "Amandla! A Revolution in Four Part Harmony" merecem apresentação nos cinemas. Depois de um momento, no entanto, o Sundance começou a parecer o Emmy, onde executivos chocados e decepcionados têm que sofrer a indignidade de perder a atenção para a HBO.
Os prêmios especiais do júri foram para dois documentários não produzidos pela HBO. Um foi o para o mistério do assassinato emocionante e real em "Señorita Extraviada", o exame da diretora Lourdes Portillo sobre a jovem que desapareceu das ruas de uma área do México perto de Ciudad Juarez; ao receber o prêmio, Portillo ligou a tragédia a "um holocausto". O diretor John Walter separou um prêmio especial do júri para "How to Draw a Bunny", seu filme inteligente sobre a vida do artista e provocador Ray Johnson.
Um momento que confundiu Waters foi quando os diretores Rob Fruchtman e Rebecca Cammisa subiram ao palco para receberem o Prêmio de Melhor Direção de Documentário por "Sister Helen", seu filme divertido sobre uma freira generosa e rígida; durante o discurso, Cammisa agradeceu sua mãe, a quem ela se referiu como "a freira", por apresentar a ela o tema do filme.
O Prêmio de Excelência em Cinematografia foi a Daniel B. Gold pelo hilário e assustador "Blue Vinyl", um documentário sobre a presença traiçoeira de uma toxina ambiental encontrada no porão de uma casa, e o drama "Personal Velocity", sobre três mulheres e seus relacionamentos, gravado em vídeo digital pela talentosa e esforçada diretora de fotografia Ellen Kuras.
"Gasline" do diretor Dave Silver ganhou o prêmio do júri por curta-metragem. O tenso e movimentado "Bloody Sunday" - que se passa em 30 de janeiro de 1972, quando uma manifestação pacífica em Derry, Irlanda, transformou-se em um massacre quando tropas britânicas abriram fogo contra a multidão - e "The Last Kiss", um drama-comédia sobre quatro casais em transição, dividiram o Prêmio de Melhor Audiência de Cinema Mundial.
A HBO não foi a única organização a receber agradecimentos múltiplos de diretores. O ITVC - Serviço de Televisão Independente - também foi reconhecido. Ele levou "Señorita Extraviada" ao Sundance, bem como o ganhador de Melhor Documentário, "Daughter From Danang", a história fascinante de uma jovem vietnamita adotada que busca suas raízes depois de ser criada no Tennessee.
A InDigEnt Films, especializada em produções de baixo orçamento em vídeo digital, teve alguns triunfos, incluindo "Personal Velocity". Além disso, Gary Winick, um dos fundadores da InDigEnt, foi premiado por Melhor Direção Dramática pela comédia "Tadpole", um filme que pode ter ido diretamente para a zona de loucura que Waters observou: é sobre um adolescente que se apaixona pela sua madrasta (Sigourney Weaver).
E uma outra linha surgiu no Sundance. Apesar das ruas vazias em Park
City, o mais alto número de filmes dramáticos na história do festival - quase um terço dos quais em vídeo digital - foi vendido ou estava na parte de leilões.
Este movimento comercial fará de 2002 um ano a ser lembrado, e talvez atraia uma audiência maior no ano que vem, quando os filmes comprados forem lançados. John Waters não se juntará aos freqüentadores de cinema, no entanto. Observando o número de filmes para os quais ele serviu de júri dramático, ele disse, "eu não que ir assistir nenhum filme na Angelika ou na Sunset 5".